A minha cunhada Luísa Carvalho, aventureira destemida, participou na 1ª Expedição a Marrocos pelo núcleo TT dos Serviços Sociais da CGD que decorreu de 2 a 12 de Abril de 2010.

Passo assim a publicar as suas crónicas, devidamente autorizadas pela autora, e a sonhar com uma participação numa expedição similar.

1º dia, 2.Abril.2010, sexta-feira santa

Depois de termos conseguido acomodar tudo nos jipes, o que era preciso e o que não era preciso, dando prioridade aos haveres que cumpririam o grande objectivo humanitário da expedição e ao material e equipamentos de prevenção de qualquer eventualidade nas máquinas ou nas pessoas, partimos, após a reunião do grupo e a fotografia de "família", em Lisboa, frente à sede da CGD, eram sete horas da manhã.

Tinha início a 1º Expedição a Marrocos organizada pela Secção Todo-o-Terreno dos Serviços Sociais da CGD, nove jipes, vinte e quatro aventureiros, a saber: Land Rover Discovery, com o Rui Guarda e o Ramiro Gameiro Jorge, de Lisboa, Land Rover Defender, com o Fernando Alvarinhas e o mecânico de serviço, o Luís Henriques, de Penacova, Land Rover Discovery, com o Arnaldo Xarim e o filho Guilherme Xarim, de Santarém, Nissan Terrano I, com o casal Marino e Luísa Carvalho, de Rio Maior, Land Rover Defender, com o Samuel Araújo e o José Alberto Cerqueira, de Arcos de Valdevez, Susuki Samurai, com o Filipe Ribeiro e o Sérgio Carvalho, de Peniche, Mitsubishi Space Wagon, com o casal Carlos e Paula Leitão e os filhos Pedro e Tiago Leitão, de Lisboa, Nissan Patrol, com o casal Alfredo Antas Teles e Adozinda Pinto e os amigos Mariana Pires e António Pedro Ferreira, de Lisboa, e Toyota Land Cruiser, com o casal Romeu e Ana Joaquim e o casal José Alberto Pereira e Isabel Silva.

Um sol gordo e pálido assinalava a margem sul do Tejo e compunha uma sinfonia de cores em tons pastel, impregnando a travessia da Ponte Vasco da Gama de uma candura repousante e lívida. Lisboa ficava para trás, completamente desfigurada pela quase ausência de carros e pessoas nas ruas, e iniciámos o primeiro dia de viagem, 600 quilómetros até Tarifa.

Uma viagem sem imprevistos é como um livro sem histórias e, no nosso livro, a primeira história surge à laia de prefácio, tão prematura ocorreu. O Suzuki Samurai parou a poucos quilómetros de Beja, supostamente, com problemas na caixa de velocidades, e foi necessário tomar decisões. Parte da carga foi distribuída pelos outros jipes e os seus dois ocupantes, o Filipe e o Sérgio, recorreram à assistência em viagem e regressaram, de táxi, a Peniche, seu local de partida, onde dispunham de um segundo Suzuki, neste caso Jimny, para se juntarem novamente a nós, já em Marrocos. Afinal, um familiar trouxe o tal jipe suplente até Lisboa, abreviando a viagem destes resistentes.

A planície alentejana vestia verde intenso, estampado aqui e ali de amarelo ou lilás e, como acessório, apresentava um azul celestial, cada vez mais quente.

A coluna integrava então oito viaturas, mas logo passámos a nove, depois do último jipe da expedição, outro Suzuki Samurai, se juntar a nós, em Beja, com o Vitor Carneiro e a filha Cláudia Carneiro.

Entrámos em Espanha cerca das onze horas, por Rosal De La Frontera. A alentejana Matilde, o Samurai, começou com afrontamentos, pelo que tivemos que parar novamente a caminho de Sevilha, a primeira vez para a refrescar com água do Luso, outra vez para lavagem do depósito de água, todo besuntado de óleo e, depois de uma marcha lenta e agonizante para quem estava desejoso de viver a soberba experiência de atravessar o estreito de Gibraltar, assim como para os zelosos no cumprimento de horários, a derradeira paragem, a Matilde teve de ficar em Santiponce-Sevilha para tratamento ambulatório. Mais uma vez tivemos que redistribuir a carga pelos oito jipes restantes e, neste caso, também os seus dois ocupantes, o Vitor e a Cláudia.

Esta demora por terras da Andaluzia acabou por proporcionar a reunião do grupo ainda em Espanha, o Jimny que transportava o Filipe e o Sérgio alcançou-nos e estávamos novamente nove jipes e vinte e seis aventureiros a entrar no ferry-boat em Tarifa, depois de recolhidos os bilhetes em Los Barrios.

Chegámos ao porto de Tarifa cinco minutos antes da hora da partida, vinte e uma horas, mais uma hora que em Portugal, o ferry quase só para nós, imenso, o sol a esconder-se nas águas atlânticas deixando-nos mergulhados num envolvente cénico pelas luzes brilhantes e formas imperfeitas a diluírem-se na noite. A noite acabou por nos cegar e a contemplação do norte de África e da extremidade sul da Península Ibérica ficava agendada para a viagem de regresso. Contudo, o primeiro capítulo da nossa história ficou mais recheado e inesquecível!

A viagem marítima até Tanger foi muito tranquila e o desembarcar de pessoas e viaturas fluente, mas deparámo-nos depois com a demora habitual dos trâmites legais para entrar em Marrocos. O guia Adidou Ali, amigo do Rui de expedições anteriores há cerca de dez anos, juntou-se a nós, um marroquino berbere que se veio a revelar de excepcional valor humano.

Após 45 quilómetros chegámos ao Hotel Al-Khaima, em Asilah, às vinte e três horas locais, menos uma que em Portugal. O jantar incluiu azeitonas temperadas com azeite e pimentos como entrada, sopa marroquina, peixe frito e laranja com canela.

O cansaço e o sono obrigaram a uma retirada imediata para os quartos.

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